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Caminho Livre para a inclusão do Deficiente Visual

 

A lei de cotas facilita o ingresso do deficiente visual no mercado de trabalho?

Publicado em 21/08/2011 por Irene De Barros Pereira em Discutindo a Deficiência com 8 comentários

A Lei nº 8.213/91 (Lei de cotas), define as regras das cotas para deficientes no mercado de trabalho, ou seja, há regras, aliás, uma lei que define o que empresas privadas e públicas devem fazer em relação ao espaço que se deve reservar aos deficientes.

Essa reserva não é para ser feita como um favor, mas sim porque somos pessoas com capacidades e habilidades como outro ser humano qualquer.

Cito especificamente a lei de cotas por uma razão bem pertinente: é através do trabalho que somos inseridos na vida social, ou seja, é através da atividade econômica que nos tornamos independentes para viver a vida com tudo o que ela nos oferece dentro desse mercado de consumo.

Objetivamente falando, qualquer indivíduo com ou sem deficiência só pode vislumbrar um futuro para si a partir do seu próprio sustento, que se dá repito, através do trabalho. Veja, não estou falando de carreira porque normalmente esta, só consegue se tornar realidade depois de vários outros trabalhos que o indivíduo realiza com a intenção de se preparar para a carreira escolhida.

Os avanços

A lei de cotas foi criada com o objetivo de fomentar a oportunidade de trabalho para os deficientes. De 1991 para cá, muito se avançou e isso é inegável. Por outro lado, três questões se destacam:

  • A primeira é a necessidade de se fazer uma lei para que pessoas com necessidades especiais possam mostrar suas capacidades, competências e habilidades;
  • A segunda é que nós, os deficientes visuais, somos a minoria dentre as pessoas com deficiência a serem contratadas. As empresas preferem contratar deficientes físicos, especificamente aqueles com bastante mobilidade, para justamente fazerem poucas adaptações no local de trabalho. E na pequena fatia desse bolo dos deficientes visuais contratados a maioria é baixa visão, seguindo o mesmo critério pelas empresas na hora da contratação;
  • A terceira é o fato concreto de que algumas empresas inclusive grandes contratam deficientes, em particular os visuais, apenas e tão somente para o cumprimento das cotas. Não há investimento para o acolhimento desse pessoal, não há preparo dessas pessoas para as empresas específicas.

Empresas Cegas

A busca do lucro faz com que essas empresas sejam mais cegas do que aqueles que estão contratando. Essa atitude não lhes permite "ver" que antes de ser cego, o deficiente visual é uma pessoa que pensa, adquire conhecimento transformando tudo isso em competências e habilidades como qualquer indivíduo. Essa cegueira e a falta de inteligência dos que administram tais empresas, marginalizam pessoas que poderiam com o seu trabalho dar o mesmo retorno que os demais funcionários.

O lucro imediato impede que essas empresas invistam nos funcionários deficientes visuais. Algumas contratam e tratam o funcionário como um objeto mobiliário mesa, cadeira, etc. Outras contratam e usam esses funcionários como "laranjas", ou seja, os funcionários são contratados, registrados, recebem o salário (normalmente mínimo) mas não trabalham na empresa, ficam em casa.

Você aceitaria?

Para alguns deficientes pode parecer um grande negócio afinal, recebem para ficar em casa, olha que maravilha! Não é meu papel julgar, mas esse suposto emprego não desenvolve uma carreira dentro da empresa nem tampouco prepara o indivíduo para o mercado de trabalho fora dessa empresa e a menos que a pessoa use esse tempo para adquirir conhecimento e preparo, não há desenvolvimento pessoal e nem social.

Afinal, empresas e deficientes perdem a possibilidade da interação social que se traduz em troca de um aprendizado que não se consegue nas instituições de ensino ou naquelas voltadas para o deficiente. Isso só é possível na convivência pessoal e diária em situações onde haja a diversidade, é nesse momento e nessa convivência que a inclusão acontece de fato. Então pensando na humanidade, na sociedade, e no indivíduo, você que está lendo este artigo aceitaria uma situação como essa?

Você aceitaria ser um "laranja", ganhando seu salário para não aparecer na empresa, em troca de sua sociabilização? Você aceitaria abrir mão dos seus direitos como cidadão em prol do seu sustento econômico?

Na minha opinião...

Me colocando no lugar de quem não tem trabalho e precisa ter um salário para contribuir com o pagamento das contas da casa (ou porque precisa ter um mínimo de independência econômica, afinal, até quando podemos depender dos pais, dos filhos, ou dos benefícios do governo?), acredito que a lei de cotas facilita o ingresso do deficiente visual no mercado de trabalho. No entanto, as distorções por parte das empresas na aplicação da lei, e do outro lado a falta de preparo do deficiente visual, fazem com que a lei de cotas seja uma brincadeira de faz de conta. A empresa faz de conta que contrata e o deficiente faz de conta que trabalha.

Atualmente, tenho um emprego temporário e por isso me fiz a seguinte pergunta: quando terminar o prazo do meu trabalho e tiver que arcar com minha cota nas despesas da casa e sem ter trabalho, eu aceitaria uma situação como a que acabei de descrever neste artigo?

Pensando sobre isso, me dei conta de que a inclusão ou exclusão se faz pela atitude de cada indivíduo, das empresas e da sociedade como um todo. É o SER do indivíduo e do povo de um país que faz a diferença. É cultural na sociedade brasileira, tratar o diferente como algo que podemos fingir que não existe, ou pior, somos politicamente corretos e aceitamos tudo, desde que não seja conosco, ou que não tenhamos que nos envolver, ou, que aquela diferença seja cuidada por outros, e não importa como.

Não me importo que as empresas usem desse artifício, o que me incomoda é que elas não assumem isso, por outro lado, se assumissem esse papel, ou seja, pagassem mas não incluíssem, nós deficientes passaríamos a ser eternamente os coitadinhos, pois teríamos um salário, mas estaríamos exclusos da vida do trabalho para sempre.

E só para não deixar dúvidas, penso que a lei de cotas tem a intenção de inserir o deficiente no mercado de trabalho e por consequência incluí-lo na sociedade. Na medida em que as coisas forem feitas com vontade, seriedade, verdade, humanidade e naturalidade, não tenho dúvida de que a lei de cotas será o que ela se propõe, ou seja, um facilitador para os deficientes, promovendo a inclusão que tanto sonhamos.


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8 Comentários

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Irene Poeta disse em:

21/08/2011 - 15:24:21

Olá, pessoal!!

Oi, chefe, a imagem ficou ótima!!! VALEU!!!!

Abraço a todos


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William disse em:

22/08/2011 - 17:45:02

A Lei de cota é um mal necessário. Ainda o Brasil não criou uma consciência para perceber as capacidades que uma pessoa pode ter, é necessário uma lei para obrigar os empresários contratar, num outro momento, esta obrigatoriedade não será mais necessário e aí não teremos mais necessidade de uma lei.
Vamos torcer e mais do que isso lutar por esta mudança.
Um abraço William


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Celina Mendes disse em:

02/09/2011 - 21:24:17

Olá pessoal
Parabéns pela discussão em torno desse assunto e lamento muito que as empresas, quando contratam um deficiente visual, queiram apenas cumprir a lei, pois nunca estão preparadas e não fazem a mínima questão de fazê-los, simplesmente jogam o DV e que ele se vire até não aguentar a situação de ficar se sentindo inútil e pedir demissão. Meu filho é DV e já passou por várias empresas e acaba saindo por se sentir inútil.


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Irene Poeta disse em:

10/09/2011 - 14:56:20

Olá, pessoal!
Esse é um dos meus medos, ficar numa empresa e ser companheira dos móveis. Precisamos saber como agir efetivamente pra que essa situação mude e a informação, a formação, a discussão e reflexão sobre os fatos, são caminhos que nos levam às mudanças.

Grande abraço a todos.


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Tabatita disse em:

19/12/2011 - 10:31:43

Acho a lei de cotas sem sentido nunhum.
Sou deficiente visual, estou registrada a 2 anos quase,mas nem me pergunte o que eu faço...Eu fuco em casa no PC e só vou 1 vez na empresa o mes todo,Adivinha para que....Assinar a folha de pontos...
Me perdoem mas tem gente nessa mesma empresa que tem deficiencia que não iria interfirir em nada atuar com alguem sem deficiencia e esses é que trabalham afinal não tem que fazer adaptações e nada e é mais facil assim.

Estou em casa e nenhuma outra empresa me contrata...
SE EU ESTIVESSE QUERENDO GANHAR EM CASA IA ATRAS PARA RECEBER DO INSS.


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Irene de Barros disse em:

23/12/2011 - 20:39:33

Olá, pessoal!

Confesso que desde o princípio desse artigo, não foi tarefa fácil escrever sobre esse assunto sem parecer que estou tomando partido de um dos lados, como disse no prórpio artogo tudo depende do lado em que se está, daquilo que se pretende e da força que se tem para a escolha que se fizer.

É triste, aliás, é doloroso perceber o quanto o ser humano não é HUMANO, pois a partir do momento em que ele trata outro ser humano como objeto, como um ser de segunda categoria, percebe-se o quanto este ser humano em particular é PEQUENO.

Por outro lado, qual a nossa atitude pra que as coisas sejam diferentes? Acho que precisamos refletir sobre isso.

Abraços e feliz natal a todos!!!


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Irene Poeta disse em:

15/01/2012 - 09:29:10

Olá, pessoal!

Antes de mais nada, feliz ano novo a você internauta que nos acompanhou ao longo de 2011. Tenha neste ano, que logo, logo ficará velho, muita saúde e paz.

Quero informar sobre uma matéria que vi no jornal da Cultura no dia 13 de janeiro, sexta-feira deste ano. O jornal destacou a denúncia de uma deficiente, não especificaram qual a deficiência, sobre duas empresas, uma delas multinacional.

Motivo da denúncia: ela foi contratada para trabalhar na área administrativa e tudo o que fazia, era artesanato. Segundo ela, nunca fez parte do setor administrativo de nenhuma das empresas.

Hoje contratada e rabalhando na áre administrava de outra empresa, ela resolveu denunciar as duas empresas.

A confusão está armada, vamos ver quais providênicas resultarão disso. O importante é que algo está mudando e o engraçado é que eu só soube dessa matéria no jornal da Cultura, alguém mais viu em outro telejornal? Acho que cabe novamente a pergunta qual a nossa atitude diante de tudo isso?

Grande abraço a todos.


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elton disse em:

22/03/2012 - 16:44:00

Em torno desse assunto e lamento muito que as empresas, quando contratam um deficiente visual, queiram apenas cumprir a lei...
E eu acho que este tipo de forma e inutil para essas impresa quer apenas compri a lei de cotas e nem olha o quanto a pessoas com deficiencia tem a capacidade maior que muitas outras pessoas que nen tem nenhuma deficiencia e as que tem tentam fazer tudo que e possivel para trabalhar sem se preocupar coma lei de cotas



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